Senai levanta medidas de 10 mil brasileiros, e roupas poderão ter padrões regionais e nacional já em 2014
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Scanner humano colhe medidas do corpo de voluntarios para ajudar a industria a fazer produtos mais adequados ao consumidor. (Leo Martins / Agencia O Globo) |
Ao perguntar a um brasileiro que tamanho
ele veste, a resposta, invariavelmente, é depende. Isso porque a falta
de padrão da indústria nacional faz com que uma mesma pessoa possa ir do
tamanho P ao G, do 38 ao 42, segundo a marca. É um problema que pode
estar com os dias contados. Um estudo antropométrico inédito no Brasil é
desenvolvido pelo Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil —
Senai-Cetiq do Rio, com a ajuda de um aparelho chamado scanner humano,
já utilizado pelas indústrias americanas e europeias. Já foram mapeadas
as medidas de 6,5 mil brasileiros de todas as regiões do país.
O estudo deve ser concluído até julho do
ano que vem, e os dados vão gerar tabelas de medida padrão regionais e
nacionais. Um investimento de R$ 5 milhões, em recursos próprios do
Senai-Cetiq, que criará referências para a indústria aprimorar a
precisão das numerações de suas confecções.
— Ainda resta colher as medidas de 3,5
mil pessoas para concluirmos o estudo, sermos creditados e acreditados
nacional e internacionalmente. Mas a tabela da região Sudeste já ficará
pronta no primeiro semestre deste ano —antecipa Flávio Sabrá, gerente de
Inovação, Estudos e Pesquisas do Senai-Cetiq e coordenador do projeto.
A falta de padrão ou de um levantamento
antropométrico — técnica científica de mensuração do corpo ou de suas
partes — motivou até um documentário: “Fora do figurino — As medidas do
jeitinho brasileiro”, do diretor Paulo Pélico, realizado entre 2007 e
2012, e que estreou na última sexta-feira nas cidades de Rio, São Paulo e
Brasília.
É que hoje, apesar de haver referenciais
estabelecidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) para
a moda infantil e masculina, a maioria dos fabricantes ainda usa
medidas estrangeiras para fabricar roupas, calçados e móveis. Segundo
Marcos Fernandes Gonçalves, economista da Fundação Getulio Vargas (FGV)
de São Paulo, a prática se repete desde meados do século XX, quando o
poder de compra da população estava nas mãos de brasileiros com
ascendência europeia.
O documentário mostra ainda que o
problema aflige do homem urbano ao índio, da dona de casa às
apresentadoras de TV pela perda de tempo e dinheiro, além de inibir
compras pela internet. A falta de regulamentação ainda possibilita que o
mercado lance mão de alguns truques, alerta Ariel Vicentini,
coordenador de Tecnologia do Senai-Cetiq:
— Há marcas que usam uma modelagem maior, mas vendem como um número menor, para que o cliente se sinta psicologicamente magro.
Apesar de o estudo antropométrico ser referência para indústrias no mundo inteiro, no Brasil, o tema ainda é polêmico. O presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), Roberto Chadad, por exemplo, defende a manutenção dos padrões referendados pela ABNT.
Apesar de o estudo antropométrico ser referência para indústrias no mundo inteiro, no Brasil, o tema ainda é polêmico. O presidente da Associação Brasileira do Vestuário (Abravest), Roberto Chadad, por exemplo, defende a manutenção dos padrões referendados pela ABNT.
— O estudo do Senai-Cetiq nos servirá
apenas para conferência. Quem merece crédito são os varejistas. Eles têm
melhor conhecimento do corpo do brasileiro que vestem. Há 16 anos
discutimos esse tema com a ABNT. Esse levantamento contou com a
participação de dois mil modelistas — destaca o presidente da Abravest.
Padrão para Calçado na segunda fase do estudo
De acordo com a superintendente do
Comitê Brasileiro de Normalização Têxtil e do Vestuário da ABNT, Maria
Adelina Pereira, os padrões infantil e masculino foram estabelecidos num
consenso, a partir das tabelas de medidas usadas pelas empresas, numa
espécie de média. Ambas as normatizações são de adesão voluntária.
Chadad antecipa que até o fim deste ano a ABNT finalizará as medidas
para a confecção feminina, que corresponde a 60% do mercado.
Alheio a polêmicas, o Senai-Cetiq
comprou mais dois scanners humanos, investimento de R$ 160 mil, e outros
dois específicos para captar com precisão as medidas dos membros
superiores, inferiores e extremidades do corpo, que serão usados, numa
segunda fase do projeto, para gerar medidas para a indústria calçadista e
de equipamentos de proteção (como luvas e capacetes).
Saiba como funciona o mapeamento
Hábitos: O voluntário, entre 18 e 65 anos, responde a questionário sobre hábitos de consumo
Cabine: Usando uma
lingerie especial, feita de malha e poliéster, o voluntário se posiciona
na cabine, onde, por incidência de luzes brancas, por 60 segundos, são
mapeadas 100 medidas de seu corpo. As informações são enviadas a um
computador, que cria uma imagem tridimensional
Fita métrica: O voluntário ainda tem 21 medidas colhidas com uso de fita métrica por um técnico
Tabelas: Os dados resultarão em tabelas com medidas padrão nacionais e regionais para homens e mulheres adultos.
Fonte: SIS - Sebrae/SC